domingo, 19 de outubro de 2014

Equipe do SUS pode diagnosticar doenças mentais precocemente



Equipe do SUS recebe treinamento
Equipe do SUS: estratégia sugerida pela OMS é a capacitação de profissionais de unidades de atenção primária à saúde



São Paulo – Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INPD) desenvolveu, testou e comprovou a eficácia e a viabilidade de um treinamento para capacitar médicos e enfermeiros de Unidades Básicas de Saúde (UBS) a identificar transtornos mentais em crianças e adolescentes.
O objetivo é oferecer ao sistema de saúde brasileiro um modelo de treinamento factível para melhorar o prognóstico dos problemas de saúde mental.
“Transtornos mentais são muito prevalentes na população geral, começam na infância, são fruto de alterações do desenvolvimento cerebral, podem se tornar crônicos e levar à incapacitação na vida adulta.
Uma das formas de mudar este cenário é capacitar profissionais do programa Saúde da Família para identificar precocemente aqueles que precisam de ajuda, prestar serviço e tratar os casos mais simples e encaminhar adequadamente os casos mais complexos”, disse Eurípedes Constantino Miguel Filho, professor titular e chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do estudo “Promoção da Saúde Mental na Estratégia da Saúde da Família: intervenção precoce visando à prevenção dos transtornos mentais e seu impacto socioeconômico”.
Desenvolvido no âmbito do programa FAPESP de Pesquisa em Políticas Públicas para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), o trabalho se baseia na recomendação global da Organização Mundial da Saúde (OMS) de intervenção precoce para evitar o agravamento dos transtornos mentais na vida adulta.
A estratégia sugerida pela OMS é a capacitação de profissionais de unidades de atenção primária à saúde – voltados a ações preventivas, curativas e de atenção ao indivíduo e a comunidades –, que, no modelo assistencial brasileiro, equivale às equipes de Saúde da Família das UBS e inclui médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde.
Pesquisas apontam que a maioria dos adultos que tiveram problemas de saúde mental já apresentava sintomas durante a infância ou adolescência. Estatísticas brasileiras também indicam que entre 7% e 12% dos indivíduos com menos de 19 anos – o que corresponde a uma faixa de 4 milhões a 7,5 milhões de crianças e adolescentes – apresentam comportamentos que merecem atenção, podendo ou não configurar um transtorno com necessidade de algum tipo de tratamento.
Somam-se a esses números dois agravantes. O primeiro é a escassez de psiquiatras especializados em infância e adolescência. A Associação Brasileira de Psiquiatria aponta a existência de 300 desses profissionais no país, o equivalente a um psiquiatra para cada 75 unidades básicas de saúde. O segundo é a previsão da OMS de que, em 2020, os transtornos mentais serão a principal causa de incapacitação relacionada à perda de produtividade, causando dificuldades de aprendizado (no caso de crianças e jovens) e dificuldade de socialização e empregabilidade (no caso de adultos), além do sofrimento e prejuízo social para os pacientes e suas famílias.
Os sistemas de saúde devem estar preparados para identificar precocemente transtornos mentais. A pesquisadora Rosane Lowenthal, uma das responsáveis pelo treinamento do INPD, afirmou que é possível que uma criança que passa em consulta mais de uma vez com queixa de dor de barriga – ou dor de cabeça recorrente ou dificuldade de dormir –, e não apresenta nenhuma evidência clínica que justifique os sintomas, pode estar com um quadro de ansiedade ou estresse, por exemplo. Caso passe despercebido, o risco é se agravar e trazer complicações futuras.
Lowenthal disse que há serviços públicos especializados – como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) – que podem ser procurados diretamente pelos pais, sem necessidade de encaminhamento médico. Além disso, o projeto busca preparar as equipes das UBS para identificar e tratar casos mais simples.
Existe resistência, porém, em consultar um psiquiatra infantil e isso tem razões culturais. “Antigamente nem se falava em transtornos mentais na infância. Hoje ainda é comum pessoas não acreditarem que uma criança possa ser depressiva. Aceita-se que ela seja tristinha, quietinha, que não dê trabalho, mas dificilmente suspeita-se que, por trás desse comportamento, de caráter internalizante, possa haver indícios de algum transtorno”, disse Lowenthal.
Uma vez capacitadas, as equipes das UBS podem ajudar a ampliar os diagnósticos e a oferta de tratamento adequado também àqueles que resistem em buscar atendimento especializado por temer o estigma que circunda essas doenças.
Para o psicólogo Daniel Fatori, doutorando que colaborou com a pesquisa, os transtornos mentais na infância e adolescência podem ser diagnosticados precocemente na UBS e tratados adequadamente no próprio local ou, em casos mais graves, encaminhados para serviços especializados.
Jussara Mangini, da AGÊNCIA FAPESP

Link para reportagem completa: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/equipe-do-sus-pode-diagnosticar-doencas-mentais-precocemente
Postado por: Camila Soukup

4 comentários:

  1. É muito importante se ter o conhecimento desse projeto que o governo do estado de São Paulo prepara para as crianças e adolescentes. Permanecer em contato com os pacientes na forma de entender e lidar com seus comportamentos através do campo de trabalho da UBS irá ajudar vários profissionais da saúde a chegar um um diagnóstico correto de alguma doença que o paciente apresenta além do transtorno mental.
    O que se torna preocupante para o SUS e a falta de profissionais da especialidade capacitados para atender a demanda como por exemplo os psiquiatras na área, com isso temos que ter a consciência que o inicio do projeto irá sofrer alguns caos que acarretará em transformações até que todo processo seja concluído, visto que a gestão do SUS está no caminho certo e este, não pode parar com as formações de outros profissionais da saúde para reconhecer o paciente que sofre com esse processo desde as visitas por agentes comunitários em seu domicílio até o atendimento médico especializado.

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  2. Essa iniciativa de capacitar profissionais que saibam identificar um transtorno mental em uma criança é muito importante para que esse indivíduo seja tratado corretamente para que esse transtorno não evolua e atrapalhe sua saúde no âmbito social no futuro. Mais importante também é a conscientização precoce de mães para que o preconceito contra psiquiatras infantis não atrapalhe no tratamento de transtorno mental.

    Karoline Ronconi

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  3. Reportagem diferente onde mostra que os sistemas e profissionais de saúde devem estar preparados para identificar precocemente transtornos mentais, como já foi dito no texto, quanto mais cedo você diagnosticar qualquer doença, melhor será a recuperação do paciente, seja ele criança ou adulto, quando a doença já está desenvolvida o preconceito que essas crianças e adolescentes sofrem é muito grande, mesmo tendo vagas em lugares públicos e seus direitos, a sociedade olha diferente para essas pessoas.

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  4. É louvável, essa iniciativa do INPD em capacitar profissionais das UBS para atender as crianças e adolescentes que apresentam algum transtorno que lhe cause algum dano a sua saúde mental. Esse projeto tem como objetivo fazer, prognostico precoce que os possibilite identificar sintomas de transtornos que no futuro possam incapacitar nossas crianças e jovens a ter uma vida comum no meio social.

    Judson A.M.JR

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